quarta-feira, 28 de novembro de 2007

UM BREVE PLANO DE VÔO



Carlos Correia Santos
Autor

A asa da História Oficial do Pará acalenta entre suas penas uma excitante e interessantíssima polêmica. O Estado guarda o orgulho ter sido o berço de um dos grandes nomes do pioneirismo da navegação aérea. Foi em terras amazônicas que nasceu o poeta, jornalista e inventor Júlio Cezar Ribeiro de Souza, primeiro homem a descobrir e provar a existência do que hoje se conhece como aerodinâmica. De acordo com farto acervo documental levantado pelos pesquisadores Luís Carlos Bassalo Crispino e Fernando Medina do Amaral (acervo que resultou no livro “Memórias Sobre a Navegação Aérea”), muitas das idéias de Júlio – embora patenteadas ainda no século XIX – foram plagiadas por outros pesquisadores. Em especial, pelos franceses Charles Renard e Arthur Constantin Krebs, que, em 09 de agosto de 1884, realizaram a ascensão do balão “La France”, copiando explicitamente o sistema estruturado pelo nortista para os balões “Victoria” e “Santa Maria de Belém”. Livremente inspirada no rico material reunido por Crispino e Medina, “Júlio Irá Voar” representa minha tentativa de embarcar de modo poético e agudo nessa palpitante celeuma científica. Escrevi esse texto como quem deseja eternizar no palco os sobrevôos e quedas, os êxitos e pesares de um inigualável vulto histórico que se fez alado por não temer agarrar-se à plumagem dos sonhos, das verdades, das idéias e das loucuras. Meu primeiro pouso na felicidade foi ter conquistado com essa obra o primeiro lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia 2004. Meu segundo pouso na alegria foi ter outra vez aninhado minha escrita teatral na genialidade de Paulo Santana. A precisão, criatividade e generosidade desse grande diretor e encenador põe asas delicadas e ferozes no que tramo. Só voa de fato um dramaturgo quando guiado por grandes conhecedores dos tablados. Então, que o Grupo Palha faça Júlio voar. E que voe o teatro paraense. Que se lancem ao sem fim todas as platéias.

Nenhum comentário: